Servidores da Flona resgatam pedra que parece ter uma pegada impressa


Carlos Ribeiro e Cristiano Adaminski da Flona fizeram o resgate da pedra na tarde desta segunda-feira, 19

Pedra ficará exposta na Capela Nossa Senhora de Fátima, na sede da Flona

 

 

Na tarde desta segunda-feira, 19, os servidores da Floresta Nacional de Três Barras (Flona), Carlos Ribeiro e Cristiano Adaminski, encontraram uma insólita rocha com o que parece ser uma pegada impressa, em terreno de difícil acesso, no limite Sul da Unidade.

 

 

A chamada “Pedra do Monge”, apelidada assim pela equipe do ICMBio e Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) que a descobriu na manhã de sexta-feira, 16, jazia submersa em piscina natural de um lajeado localizado em uma grota, conhecida como Grota do Jangada.

 

A Pedra apresenta gravada em baixo relevo o que parecem ser todas as reentrâncias e saliências de um pé humano com a planta e os dedos. Na foto estas características foram realçadas com um pé úmido

 

A descoberta motivou a postagem de sábado, 17, no Facebook da Flona intitulada “A lenda da Pedra do Monge”, tratando-se de uma crônica, obra literária de ficção escrita por Carlos Ribeiro, inspirada pelo achado do dia anterior.

 

Pedra está exposta ao lado da Capela Nossa Senhora de Fátima, na sede da Flona

 

“Tendo em vista que o terreno onde foi encontrada a pedra impossibilita o acesso da população em geral por ser muito íngreme e o interesse místico que o tema desperta, resolvemos resgatar a relíquia para que todos possam admirá-la ao lado da Capela Nossa Senhora de Fátima na sede da Flona”, diz a entidade na publicação.

 

 

 

O horário de visitação é das 8h às 17h em dias úteis, feriados e fins de semana. Por questões de segurança e organização não será permitido acender velas no local.

 

 

 

Fonte e Fotos: Carlos Ribeiro e Solange Baze/FNTB/ICMBio/MMA

 

 

 

A LENDA DA PEDRA DO MONGE

*Por Carlos Ribeiro

Cascata da Grota do Jangada, local onde estaria perdida a Pedra do Monge/Foto: Lauro William Petrentchuk

 

Reza uma lenda quase esquecida, contada por antigos moradores da Fazenda Rio dos Pardos, que no final do Século XIX, entre os anos de 1894 e 1895, vagou pelas florestas da propriedade um monge chamado João Maria de Jesus.

 

 

A Ele eram atribuídos os dons da oratória e da cura, com os quais atraía muitos seguidores. Apreciava muito a pousada nas “Ermidas”, lugares ermos que possuíam grutas e nascentes, muitos hoje considerados locais sagrados e de devoção popular.

 

 

Dizem os antigos que nas terras da Fazenda Rio dos Pardos havia uma fonte em lugar de difícil acesso, no fundo de uma grota próxima ao Rio Jangada onde o Monge costumava meditar. Ali não gostava de ser importunado, pois estaria constantemente em estado de encantamento, transfigurado como Cristo, segundo afirmava respeitosamente o povo.

 

 

Certa vez, um menino chamado João, morador da Fazenda Rio dos Pardos, muito devoto e cristão, ao saber dos rumores da presença do Monge nas cercanias da propriedade resolveu, sem o conhecimento de seus pais, embrenhar-se nas matas próximas dos limites da Fazenda e encontrar a Ermida do Monge, para obter-lhe a Graça da Iluminação e da Salvação.

 

 

João desceu nos fundos da Fazenda Rio dos Pardos, lá onde o relevo é mais acidentado, com muitas grotas e a mata bem fechada. Os taquarais lhe travaram a marcha, atrasando-lhe a jornada de modo que começou a anoitecer, e com o breu da mata preta lhe veio o medo.

 

 

O medo, grande inimigo dos viajantes noturnos, pai das visagens, fez-lhe perder o caminho e talvez por isso, pelo acaso, acabou se deparando com a tão procurada Ermida. Ali, viu que havia uma luz branca muito tênue, próximo a uma fonte de água e o seu coração se encheu de alegria, finalmente teria a Graça de encontrar o Monge.

 

 

No local nenhum ruído, a não ser o da água, que brotava da fonte e descia pelo lajeado íngreme em direção ao Jangada.

 

 

Foi então que vislumbrou a imagem do Monge Eremita. A luz esbranquiçada antes percebida pelo menino, brotava-lhe da face plácida e inefável. Estava de pé a olhar o Céu por entre as copas das Araucárias. Usava túnica Franciscana. Na mão direita um pequeno livro surrado, talvez os evangelhos, a esquerda apontava para o solo, em direção aos seus pés descalços. Um dos pés repousava sobre uma estranha pedra arredondada, o outro pé jazia imerso na água da fonte salpicada de estrelas. A Imagem do Monge lhe pareceu uma ponte entre a Terra, a Água e o Céu.

 

 

O menino sentiu uma profunda paz e nada conseguiu dizer ou pedir, adormecendo de catarse e cansaço.

 

 

Acordou no outro dia disposto. Olhou em volta e viu que o Monge já havia partido. A fonte brotava com uma água límpida, gelada e revigorante com a qual lavou sua face e bebeu, achando que tudo tinha sido um sonho.

 

 

Ao levantar o rosto viu a pedra em que o Monge repousava um dos seus pés calejados de tanto peregrinar por estas terras Contestadas. Aproximou-se dela e para seu espanto havia a impressão do pé do Eremita sobre ela. Percebendo o milagre, apalpou aquela pegada com devoção e choro.

 

 

Tentou movê-la, porém ela era pesada para um menino de nove anos. Então se lembrou dos pais que deviam estar apavorados com o seu sumiço. Desceu a grota até chegar no Rio Jangada e seguiu seu curso pela margem até a estrada principal de onde em desabalada carreira foi em direção da Sede da Fazenda. No caminho encontrou seu pai que já tinha vasculhado boa parte da propriedade durante a noite sem lhe encontrar. O Velho ao vê-lo bem, não escondeu a alegria, porém, lhe passou um ríspido pito.

 

 

O guri ofegante contou que se perdeu e havia encontrado o Monge iluminado na Ermida e que ele nada lhe disse, porém, deixou gravado numa estranha pedra o seu sagrado e calejado pé. Disse que tentou movê-la sem sucesso e pediu, implorou ao pai que lhe acompanhasse até a grota para resgatar a tal pedra, como prova do milagre verdadeiro.

 

 

O Pai embora cético, em se tratando de histórias de Monge, e dada a devoção do guri, resolveu atender o pedido, seguindo-lhe pelas margens do Jangada até darem na foz do riacho que vinha da Ermida, subiram pelo meio da grota e chegaram no lajeado encantado.

 

 

“Ali, ali”, disse o menino emocionado apontando para o local onde havia visto a pedra, porém, não havia pedra nenhuma e muito menos pegadas ou vestígios do Monge.

 

 

Após o castigo pela suposta mentira, o assunto foi tratado com certo sigilo pela família, entretanto João e alguns amigos voltaram lá muitas vezes, vasculharam tudo e nada de encontrar a tal “Pedra do Monge”.

 

 

Dizem que as últimas palavras de João ao Padre que lhe deu a Extrema Unção em 1983, aos 98 anos de idade, foram: “a pedra está lá na grota, a pedra está lá…”

 

 

A pedra encantada tem sido procurada até hoje nas Grotas do Jangada, mas nunca foi encontrada.

 

Este texto é uma obra de ficção.

 

 

 

*Carlos Ribeiro é analista ambiental do ICMBio, chefe da Floresta Nacional de Três Barras, antiga Fazenda Rio dos Pardos. 





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