Pense com carinho. Reflita. Mude. Preserve e conserve a água
Na última coluna fiz uma pequena homenagem ao S. Herbert Bartz que foi o agricultor que, sozinho tomou a decisão de jogar o arado fora, enfrentou toda uma tradição milenar e criou o Sistema de Plantio Direto. Sem dúvida, um visionário. E sem dúvida, toda nossa nação lhe deve gratidão.
Mas, o sucesso do Plantio Direto não veio de uma hora para a outra, claro. Fiz a faculdade de Agronomia na década de 1990 e ainda se aprendia muito sobre cultivo convencional, “com uma aração e duas gradagens…” e milhares de toneladas de solo sendo perdidas. Hoje o Plantio Direto é consolidado – embora nem sempre praticado da forma mais adequada.
Mas, por que falar de Plantio Direto e de agricultores visionários se o tema é água? Porque, 50 anos após a visão do S. Bartz ter salvo o solo e a agricultura, estamos agora vivendo uma realidade que milhares de agricultores ainda não conseguiram enxergar: se não conservarmos a água urgentemente nas propriedades, ela vai acabar. E muito antes do que prevíamos.
Recentemente, estive em um evento em Guarapuava, no Paraná, e um agricultor ao saber que eu era de Santa Catarina, contou-nos que há uns 40 anos ele veio para cá fazer um curso, “que ele não lembrava bem do quê”. Mas uma coisa que ele nunca esqueceu, é que o instrutor falou várias vezes que se a agricultura continuasse desmatando e perdendo solo como estava, a água iria acabar! Ele lembra que os participantes riram e achavam completamente impossível isso acontecer. No entanto, não se passaram nem três décadas e ele hoje só tem água na propriedade, porque conseguiu fazer um poço artesiano.
A história desse agricultor no Paraná se confunde com centenas de relatos em todas as regiões do nosso Estado e, infelizmente, daqui do Planalto Norte também.
Uma região como a nossa, abençoada por inúmeros rios e nascentes de água estar passado por dificuldades no abastecimento hídrico no meio rural é quase surreal. A má notícia é que não há tendência de melhorar.
A boa notícia é que, assim como o S. Bartz teve a visão de conservar o solo há 50 anos, muitos profissionais e produtores do meio rural foram desenvolvendo ao longo dos anos, diferentes estratégias de conservação de água na propriedade. Hoje temos inúmeras tecnologias para conservar desde a água da chuva, até trazermos água de fontes longínquas sem o uso de energia.
O Estado de Santa Catarina tem promovido através de suas empresas públicas, formação e oferta de linhas de financiamento para que todos comecem a mudar seus hábitos em relação à conservação de água no meio rural. No entanto, é fundamental mudar a mentalidade em relação à principal estratégia de conservação, que é preservar. Preservar áreas de nascentes, beiras de rios, entorno de tanques e açudes, banhados. Preservar onde a água nasce e circula é uma das estratégias mais fáceis e inteligentes de evitarmos um futuro sombrio (não muito distante) para o meio rural.
Pense com carinho. Reflita. Mude. Preserve e conserve a água.