Foto: Katia: “Não sei mais a quem recorrer”, afirma/Edinei Wassoaski/JMais
Alegação é de que Kátia Aparecida Reis teria pedido demissão por telefone; ela nega
Imagine chegar no seu trabalho e ouvir que você não trabalha mais naquele local porque você mesmo se demitiu por telefone. Essa situação kafkiana teria acontecido com a enfermeira Katia Aparecida Reis, funcionária pública contratada por meio de teste seletivo em 2008 pelo então prefeito de Três Barras, Luis Shimoguiri.
A demissão aconteceu há seis meses e até agora Katia tenta provar na Justiça que não pediu demissão.
Katia foi contratada para trabalhar nas Equipes de Saúde da Família (ESF). Só poderia ser demitida em duas situações: demitindo-se ou com a extinção do programa.
Era responsável por três unidades de saúde de Três Barras – São João dos Cavalheiros, Campininha e KM 6. Colecionou inimigos nas unidades, segundo ela mesma por causa de sua rigidez que incluía repressão a funcionárias que iam trabalhar de calção e levava até o cachorro que, segundo Katia, ficava na porta do posto de saúde enquanto a dona trabalhava.
Quando foi desligada dos postos, em 23 de março deste ano, o secretário de Saúde, Márcio Eble registrou boletim de ocorrência contra Katia, dizendo que ela teria levado consigo documentos dos postos.
No dia seguinte, Katia devolveu os documentos.
Ela conta que tudo ocorreu muito rápido. Dois dias antes de a chamarem para assinar a rescisão, o dinheiro do acerto final já estava depositado na sua conta.
O que mais ofendeu a enfermeira foi um documento, assinado por colegas de trabalho do posto do KM 6, fazendo uma série de acusações contra ela – que não sabia trabalhar em equipe, que tratava de assuntos pessoais no trabalho, que abusava do poder que tinha, que fraudava livros de visitas e que seria grossa com os colegas.
Foi a gota d’água para a enfermeira entrar com processo para ser reintegrada à Secretaria de Saúde de Três Barras.
Katia procurou primeiro o Ministério Público e, depois a Justiça da 2ª Vara, que se declarou incompetente para julgar a questão. O processo foi para a Justiça do Trabalho, que também se recusou a julgar o caso. Agora, Katia tenta recurso no Tribunal Regional do Trabalho. “Não sei mais a quem recorrer”, afirma.
CONTRAPONTO
Em documento enviado à Justiça do Trabalho, o Município reafirma que foi Katia quem pediu demissão. O departamento jurídico do Município não apresenta, no entanto, documento assinado por ela que comprove o pedido.
O secretário de Saúde de Três Barras diz que de fato houve o telefonema e, imediatamente, o Departamento Pessoal da prefeitura deu sequência ao processo. Quando chegou à mesa do prefeito Elói Quege (PP), a exoneração foi assinada. “Gosto muito da Katia, não a mandaria embora, mas depois de feita a rescisão, não se pode voltar atrás”, afirma.
Já a gestora de Saúde, Silmara Mülmann, uma espécie de supervisora da pasta, diz que houve vários problemas de relacionamento envolvendo a enfermeira e que Katia respondia, inclusive, a processo administrativo. “Fizemos várias tentativas de realocá-la em diversos postos”, afirma.
Advogado da área trabalhista ouvido pela reportagem afirma que não existe demissão por telefone. “Mesmo que a pessoa telefone pedindo demissão, é preciso que tenha duas testemunhas e que ela assine um papel. Se isso não ocorrer, não existe pedido de demissão”, afirma categoricamente.
O JMais tentou inúmeras vezes contato com a assessoria jurídica da prefeitura de Três Barras, mas não obteve retorno.
Enquanto aguarda a Justiça, Katia não consegue outro emprego, principalmente por sua carteira ainda estar pendente, já que como ela não assinou a rescisão, o Município de Três Barras continua registrado como seu empregador.