Prints de WhatsApp mostram cobrança de parte do salário de comissionados do PL


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Segundo denunciante, cobrança acontecia dentro da prefeitura de Canoinhas; fotógrafo que teve as conversas vazadas nega

 

Funcionário comissionado (sem concurso, escolhido como sendo de confiança do prefeito ou vice) vinculado ao Partido Liberal (PL, antigo PR) encaminhou ao JMais prints de conversas que manteve com o fotógrafo da prefeitura de Canoinhas, Moisés Gonçalves, pelo aplicativo WhatsApp nas quais ele cobra o pagamento de parte do salário dos servidores comissionados ligados ao partido. As imagens vieram por um email que não permite a identificação da pessoa. O funcionário afirma que tomou coragem de enviar as cópias ao site depois que soube da operação que prendeu o vice-prefeito de São Bento do Sul, Márcio Dreveck, por receber parte do salário dos comissionados dentro da prefeitura. Segundo o denunciante a cobrança é feita dentro da prefeitura de Canoinhas por Moisés, a mando do vice-prefeito, coordenador regional do PL, Renato Pike.

 

 

 

“Desde o início do atual governo em Canoinhas, todos nós filiados ao PR, indicados a cargos pelo vice-prefeito Renato Pike, somos forçados a entregar parte do nosso salário, a cobrança é mensal e feita de forma muitas vezes constrangedoras pelo fotógrafo Moisés, a mando do Pike. Vendo a situação de SBS criei coragem para denunciar, não me demito pois preciso do dinheiro”, diz o denunciante, que afirmou ter encaminhado o mesmo material ao Ministério Público, informação que foi confirmada pela assessoria da Promotoria da Moralidade Administrativa da comarca de Canoinhas.

 

 

 

 

AS CONVERSAS (CLIQUE PARA AMPLIAR)

 

 

 

Nas 11 imagens com conversas recebidas por email, Moisés cobra os valores e deixa claro o que teria sido acertado em uma reunião do partido. No dia 28 de março de 2019 ele escreve: “Bom dia, poucas pessoas me entregaram o envelope com o combinado, estive ausente por motivos de saúde, mas na sexta-feira, 29/03 estarei a disposição na minha sala, das 13 às 17 horas, para o recebimento dos envelopes, sobre o acerto, combinado anteriormente, após reunião com a diretoria do partido e com o Pike, ficou combinado que quem recebe até R$ 2.000,00 poderá dar uma contribuição de R$ 30,00 mensal. De R$ 2.000,00 até R$ 3.500,00 o valor fica em R$ 50,00 mensal, e acima de R$ 3.500,00 o valor é R$ 100,00 mensal, a entrega poderá ser feita de forma bem simples, coloca em um envelope, o valor, escreve o nome e entrega para Moisés, ele manterá um relatório atualizado para consulta caso haja necessidade, a entrega sempre na primeira semana do mês, por favor…(SIC)”.

 

 

 

 

Antes desta mensagem, há um trecho de outra na qual Moisés explica que até o dia 29 devem ser entregues as contribuições acumuladas dos meses de janeiro, fevereiro e março. “O Pike quer na segunda-feira uma relação de colaboradores”, afirma.

 

 

 

 

Três dias depois, em 1º de abril, às 7h44, Moisés lembra novamente os funcionários sobre a cobrança: “Bom dia, estou na minha sala no aguardo da entrega do envelope com a contribuição…”  e segue repetindo os valores. “Quem já fez a entrega por favor desconsidere a última mensagem, quem não entregou por favor entregar hoje para que eu conclua a relação para entregar ao Pike (a pedido dele), Obrigado”. À época, Pike era presidente municipal do partido, cargo assumido há pouco tempo pelo vereador Cel Mario Erzinger.

 

 

 

 

No dia 2 de abril, Moisés volta a lembrar da cobrança, afirmando que está na sua sala “no aguardo do envelope com a contribuição”. Mensagens semelhantes foram enviadas nos dias 4 e 8 de abril.

 

 

 

No dia 15 de maio, nova mensagem: “Bom dia, hoje estarei em minha sala até as 10 horas, por favor, quem ainda não fez a entrega do envelope, estarei a disposição para recebê-los obrigado (SIC)”. Mensagens semelhantes são enviadas nos dias 16 e 17 de maio.

 

 

 

No dia 30 de junho, Moisés escreve às 20h31: “Boa noite meus amigos, no decorrer desta semana entrarei em contato com cada um de vocês para colocarmos alguns assuntos em dia, inclusive o que foi decidido na última reunião da comitiva do partido, desejo a todos uma ótima semana, um grande abraço”.

 

 

 

CONTRAPONTO

Moisés confirmou a autenticidade das mensagens. Ele negou, no entanto, que a cobrança ocorra dentro da prefeitura. “Quando falo ‘minha sala’ estou me referindo a sala do meu escritório, que fica na minha casa”, afirma. Moisés mantém seu estúdio anexo a sua casa há anos. Ele contou que o dinheiro arrecadado serviria para patrocinar almoços e jantas da militância e que todos concordaram com o pagamento em reunião. A princípio o valor era único, de R$ 50, mas como houve reclamações passou a ser cobrado de forma escalonada, conforme o salário de cada um. “Mas em momento algum pressionamos alguém. Paga quem quer, é uma contribuição”, afirma. Ele disse que desde o começo do ano até agora foram arrecadados R$ 1,5 mil que foram para a conta do partido como doação. Os partidos políticos precisam prestar contas de todo o dinheiro que recebem.

 

 

 

 

 

Pike, que hoje é coordenador regional do partido, disse que se Moisés utilizou a prefeitura para receber os repasses cometeu um erro. Sobre a contribuição, ele afirma que ela é absolutamente legal. “A legislação permite até 5% do salário do filiado como contribuição voluntária. A prova de que não há pressão é que nenhum servidor com cargo comissionado do PL foi demitido”, afirma.

 

 

 

A reportagem não encontrou na legislação eleitoral nada que corrobore a fala do vice-prefeito sobre percentual de repasse atrelado ao salário. 

 

 

 

Atual presidente do PL, Cel Mario Erzinger disse desconhecer o esquema de cobrança dos comissionados. Disse ainda que está se inteirando das contas do partido.

 

 

 

Embora tenha confirmado que recebeu a denúncia, o Ministério Público disse que nenhum processo foi instaurado porque a promotora da moralidade administrativa ainda está analisando os prints encaminhados pelo denunciante.





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