Segunda temporada da série consegue repetir frescor da primeira
EDUCAÇÃO SEXUAL
Cinco colegas de escola ficam de castigo até tarde porque são acusadas de escrever nas paredes da escola que a professora gosta de ouvir palavras nada ortodoxas na hora do sexo. Elas não são exatamente amigas, mas se suportam, vamos dizer assim.
Sem mais nada para fazer, uma delas acaba comentando que um desconhecido ejaculou na sua perna em um ônibus. Sem demonstrar surpresa, as demais começam a revelar casos semelhantes de assédio. Em nenhum dos casos elas levaram a questão adiante.
Essa é uma das cenas da segunda temporada de Sex Education, um dos grandes sucessos da Netflix que conseguiu a façanha de manter o frescor da primeira leva de episódios.
A descrição da cena pode parecer burocrática e você pode até imaginar aqueles grupos de discussão que são praxe em produções que centram em ambientes escolares. Quem viu a primeira temporada da série já sabe que não é assim. De modo leve, descontraído e muito bem humorado, Sex Education consegue discutir assuntos tabu, como a “chuca” (ou seria com “x”?) e doenças venéreas sem cair na pieguice, muito menos em discursos bestas como esse criado pela ministra Damares Alves, que acha que se pregar que o jovem deve se guardar para o sexo com uma pessoa realmente especial ele vai cumprir sem pestanejar. Incrível como nenhum outro “gênio” tenha pensado nisso antes. Aliás, cabe a comparação: o povo reclama que o transporte coletivo é ruim e o ministro manda não andar de ônibus! Simples assim. Se tem-se doenças venéreas e gravidez indesejada na adolescência, basta não fazer sexo e está tudo resolvido.
Ok, mas voltando a série, bem que Damares poderia se dispor a assisti-la e pegar alguns aconselhamentos com a mãe de Otis, a sexóloga que, nesta temporada, vai ocupar uma sala na escola do filho. Ela é convidada a dar conselho sexuais aos alunos depois que um suposto surto de DST se espalha entre os alunos. Eles acreditam que podem pegar clamídia pelo ar. A situação seria hilária não fosse realidade em muitas escolas brasileiras, cujos professores temem abrir a boca para explicar qualquer coisa sobre sexo aos alunos, temendo a patrulha ideológica do atual governo federal. Sem esclarecimento, como saber a informação correta em tempos de boatos e fake news espalhadas por meio das redes sociais que são acessadas o dia todo pelos jovens?
Mas Sex Education não é panfletária. Usa da comédia para retratar os jovens como seres livres e descompromissados, que apesar das pressões dos pais, querem mais é aproveitar a vida e serem felizes, independente do que virá no dia seguinte. É assim que a atual geração se mostra em qualquer parte do mundo. Negar-lhes educação em um dos setores mais importantes da vida deles, o sexual, é maldade e pode ter consequências devastadoras.