A situação atual, desafios e perspectivas do desenvolvimento territorial serão o tema da mesa redonda de abertura do 3º Workshop sobre Regional no Território do Contestado e 2º Seminário Sistemas de Produção Tradicionais e Agroflorestais no Centro-Sul do Paraná e Norte Catarinense. Os eventos, promovidos pela Universidade do Contestado (UnC), acontecem entre esta quarta-feira, 20, e sexta, 22, no Hotel Santa Catarina, em Canoinhas. Nesta quarta-feira, às 19h, para tratar da agricultura e desenvolvimento territorial, a mesa redonda reunirá representantes da Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da UnC e do Fórum de Desenvolvimento Regional do Centro-Norte Catarinense.
A mesa redonda será uma oportunidade de refletir sobre o nível de desenvolvimento territorial de Santa Catarina, em relação ao espaço rural, e servirá para apontar os desafios e perspectivas para um desenvolvimento sustentável dentro da ótica de territórios. A agricultura catarinense tem como característica o modelo de pequenas propriedades, com 90% das 200 mil propriedades economicamente ativas com área inferior a 50 hectares. E do ponto de vista de clima e relevo, o estado é diversificado tendo empreendimentos distintos em cada região.
O secretário de Estado da Agricultura e da Pesca, Airton Spies, ressalta que as condições originais, dadas pela formação de relevo, clima e vegetação, formam ambientes propícios para diferentes atividades econômicas. “Essas condições somadas à cultura e à tradição da colonização, que trouxe hábitos e costumes das regiões de origem das diferentes populações, fazem com que o estado tenha diversos territórios, com aptidões e desenvolvimentos baseados nessa combinação de condições naturais com condições culturais e econômicas. O que forma esse desenvolvimento territorial tão vibrante em Santa Catarina”.
Focar no desenvolvimento territorial é um dos diferenciais de Santa Catarina, já que, ao formar arranjos produtivos locais, cria-se escala através da cooperação e competitividade. “Esse modelo descentralizou a riqueza, criando oportunidades em todo território com base nessa perfeita integração de cultura, economia e ambiente”, destaca Spies.
Entre os desafios da agricultura e do desenvolvimento territorial estão sucessão familiar, preservação ambiental, aumentar a produtividade e a qualidade de vida no meio rural. Para Spies, o espaço rural deve seduzir os jovens e atraí-los a ficar no campo como empresários rurais, que veem que a propriedade rural pode gerar renda, resultando em qualidade de vida e que eleve a autoestima do agricultor. O secretário cita ainda a importância de combinar desenvolvimento e geração de riquezas com a preservação dos recursos ambientais. “É urgente que o meio ambiente seja protegido para manter o nosso estoque de recursos naturais, em termos de água, biodiversidade, solo, para que não fique comprometida a capacidade das futuras gerações continuarem produzindo”, afirma.
Outro grande desafio lembrado pelo secretário Spies é manter a sanidade dos rebanhos e lavouras e oferecer alternativas para mitigar os impactos das catástrofes ambientais como enchentes, secas, granizos e vendavais. Spies fala ainda sobre a organização dos produtores como forma de alcançar mercados. “Produtores conectados com cadeias produtivas de forma formal, por contratos e mecanismos que dão garantias de acesso a mercados, com produtos de alto valor agregado, para isso o associativismo no espaço rural é fundamental”.
Sobre as perspectivas para o desenvolvimento rural, o secretário acredita que são boas devido à melhoria da qualidade de vida, da infraestrutura no campo e do crescimento no mercado mundial de alimentos. Spies defende que o espaço rural deverá oferecer boas oportunidades para os agricultores que investirem em suas propriedades como empreendimentos, aplicando tecnologia e profissionalismo, e, a cima de tudo, com boa gestão. “Não haverá espaço para agricultores que não se profissionalizarem e o certo é que a agricultura familiar de Santa Catarina não é sinônimo de agricultura pobre e em nossas pequenas propriedades nós somos capazes de fazer grandes negócios, desde que sejam produzidos produtos de alta renda por área, o que é perfeitamente possível dentro desse território diversificado do estado”.
O 3º Workshop sobre Regional no Território do Contestado e 2º Seminário Sistemas de Produção Tradicionais e Agroflorestais no Centro-Sul do Paraná e Norte Catarinense é promovido pela Universidade do Contestado, Universidad Gastón Dachary da Argentina e Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).
Segundo o coordenador do evento, professor Dr. Valdir Roque Dallabrida, estarão presentes, além de palestrantes de Santa Catarina e do Brasil, oito palestrantes internacionais de Portugal, Espanha e Argentina. Haverá palestras e relatos de experiências, dentre outras, sobre novas tecnologias em cultivos e produtos agroflorestais e erva-mate, experiências de desenvolvimento rural, Indicação Geográfica de Produtos, usos do solo e desenvolvimento regional.
ERVA-MATE
Um dos assuntos centrais do evento, o reconhecimento da região como Indicação Geográfica (IG) da erva-mate, será discutido por especialistas do assunto.
Um dos palestrantes do evento, Julio Plaza Tabasco, professor da Universidad de La Mancha, na Espanha, vai falar sobre a experiência europeia com a IG. “Não são apenas benefícios econômicos, mas culturais, turísticos e ambientais. Movimenta setores que, aparentemente, não têm nada a ver com a erva-mate”, afirma. A IG é o reconhecimento internacional de uma região como referência na produção de determinado produto.
No caso do Planalto Norte, explica Dallabrida, a região se destaca pelo sabor da erva-mate sombreada. “Temos uma área geográfica com muita concentração de erva-mate sombreada”, afirma.
Sobre a crise de matéria-prima que o setor vive no momento, Dallabrida argumenta que a escassez precisa ser analisada com cuidado. “Nós tivemos um momento em que houve maior procura pela erva-mate, o que elevou o preço”, argumenta. Ele coloca como grande questão o destino da erva-mate semi-industrializada produzida em Canoinhas e cita o caso da Coca-Cola como primordial para animar o setor. “A empresa quer negociar com produtores de erva-mate de boa qualidade, sem uso de agrotóxicos, elemento que aponta para o futuro. A empresa vai querer produtores de erva-mate ecologicamente corretos”, afirma. A Coca-Cola tem investido cada vez mais na produção de chás e refrigerantes a base de cafeína, derivada da erva-mate.